Por Ronaldo Souza
Mesmo tendo frequentado as melhores universidades da Europa, (René) Descartes, filósofo francês, achava que não tinha aprendido nada de importante, ou, pelo menos, consistente, em seus estudos, exceção feita à matemática.
Não é difícil imaginar o porquê desse comportamento quando vindo de um homem que pensava na razão humana como única forma de existência. Ele acreditava no “verdadeiro conhecimento”, algo irrefutável, inquestionável.
Como todas as teorias científicas são refutáveis, passou a duvidar de tudo, inclusive da sua própria existência.
Porém, ao duvidar da sua própria existência, Descartes se deparou com algo irrefutável: a dúvida!
E a dúvida o trouxe para a compreensão e aceitação da sua existência.
Se estivéssemos presentes naquele momento e pudéssemos “ouvir” seu pensamento, talvez fosse algo desse tipo: ao duvidar de algo, estou pensando, se estou pensando, é porque existo.
Daí a sua famosa frase:
“Penso, logo existo”!
Para um filósofo, a existência, algo tão complexo e, quem sabe, indecifrável, só é possível na racionalidade.
Assim, a constatação de sua própria existência pode ter sido a primeira verdade irrefutável com a qual se deparou.
É muito provável que Descartes tenha percebido que a certeza é a convicção do idiota.
Assim, ele nos ensina a “descerteza”, a dúvida, amiga inseparável do pensamento crítico.
Mas o mundo não vive só de Descartes. O mundo não vive só de quem ainda se permite ter dúvidas.
Há homens que de tudo têm certeza e, por isso, tudo afirmam.
A esses, talvez se pudesse dizer; pense, para que sua existência ganhe um significado maior.
Por que falo de mentes inquietas e de Descartes como um dos seus representantes mais importantes?
Porque, além de se questionar tanto, também questionou as melhores universidades da Europa.
E aí ele nos ensina mais uma vez, ao expor a falibilidade da Universidade.
É comum se deparar com afirmativas com veemência exagerada feitas sob a proteção do guarda-chuva de instituições de ensino renomadas. São os famosos protocolos apresentados aos alunos que, a partir dali, estarão sujeitos às mais diversas interpretações. Às vezes, nem alunos da instituição eles são, mas a usam para respaldar o que dizem como algo incontestável, porque teria sido dito por uma instituição consagrada.
Nunca é demais lembrar que o resultado de qualquer estudo tem a ver com a interpretação que se faz dele e essa apresenta variáveis (conhecimento do tema, saber ler, capacidade de interpretar…).
É comum que quem faz essas afirmativas, como quem acabou de descobrir a pólvora, sequer imagine o que a “sua” verdade pode representar de negativo para a instituição citada.
O objetivo é causar. Se há consequências, esse é um dado de menor relevância.
Não é sempre, mesmo em grandes e destacadas instituições de ensino, que há mentes inquietas, reflexivas, criativas…
Já há algum tempo, isso tem se acentuado de maneira assustadora.