Por Ronaldo Souza
Como é bom sentar e ver o tempo passar.
Como é bom ter tempo para ver o tempo passar e observar.
Ver e ouvir.
Diante de tanta coisa, como é bom aprender.
Mas, por que dói?
Por que os anos não se tornaram bons conselheiros e acalmaram meus pensamentos?
Ao contrário, fizeram-me ver.
Nada pior.
“Se tivesses olhos para ver o que sou forçado a ver todos os dias, também quererias ficar cego”.
José Saramago
Por que fizeram isso comigo?
Nomes, gestos e atos que passam repetidas vezes à minha frente?
Que desfile estranho e incômodo é esse?
O que quer me dizer?
Os nomes surgem nas teclas do computador como que uma corrente que arrasta a tudo e a todos.
Uma corrente, porém, contida.
Por que, ao contrário das correntes, que tudo arrastam e destroem, essa me prende e me faz passivo?
Correntes e correntes.
Que arrastam e que acorrentam.
Oh, Deus, por quanto tempo ainda terei que suportar a inércia que impede o livre movimento das minhas mãos na tentativa de expressar o que a minha mente liberta e reprime?
Por que essa tortura?
Quando se acenderá aquela ínfima fagulha que fará explodir o meu cérebro, libertando-o dos grilhões da convivência profissional?
Quando finalmente terei a coragem para denunciar farsa e farsantes que se auto afirmam diante dos meus olhos?
Que dizem o que se quer ouvir.
Evangelistas do óbvio.
Doutrinadores.
Que, pequenos, fazem alunos do seu tamanho.
Eles estão aqui, do meu lado!
Basta que eu dê dois passos.
Oh céus, oh vida!