Por Ronaldo Souza
Um dia desses alguém me perguntou.
Você está triste?
Menti.
Disse que não.
Não menti, porém, por qualquer outra razão que não fosse por saber que ela não entenderia as razões pelas quais estava certa.
Estava triste.
Corrijo.
Tenho andado triste.
Como poderia ser diferente?
Até pouco tempo me sentia envolvido em algo que poderia definir como um embate político.
Entretanto, algo que já vinha acontecendo antes ganhou corpo na campanha política da presidenta Dilma Rousseff.
Ali, a tristeza já acenava.
Entregara-me a uma luta que nunca tinha sido tão minha.
Tão nossa.
Portanto, feliz, pleno.
Mas ali estava a tristeza, batendo insistentemente à porta.
Já não era uma luta política.
Junho de 2013
Em março de 2013 a pesquisa CNI/Ibope era manchete na Folha: Dilma é aprovada por 79% e supera Lula e FHC.
De repente, os protestos em São Paulo contra o governo de Geraldo Alckmin (PSDB), pelo aumento de 20 centavos na passagem de ônibus.
Protestos contra o governo de São Paulo, mas que foram transformados em protestos contra o governo federal, logo ele que acabara de alcançar incríveis 79% de aprovação.
Disseminaram-se pelo país.
Em junho de 2013, debaixo de muita festa, a revista Veja fazia a sua manchete: Popularidade de Dilma despenca após protestos.
Em apenas três meses, a popularidade de Dilma Rousseff foi de 79 para 30%.
Só Fernando Henrique Cardoso tinha conseguido isso, mas aí é fácil explicar.
Quantos tinham sinapses neuronais suficientes para perceber que era simplesmente impossível tamanha queda em tão pouco tempo sem que houvesse uma indução muito bem concebida e posta em prática pela imprensa?
Mas foi fácil.
Aquela plateia não exigia muito.
Eles estavam no ponto.
Marchavam.
E como seguidores de uma cartilha, nada percebiam.
Algo muito maior, que nunca deixou de estar presente, se manifestou com toda sua força.
Era o momento de fazer valer a sentença de Jorge Bornhausen (DEM – SC), o “Alemão”, como também era conhecido por causa da ascendência germânica.
Era preciso eliminar aquela raça.
O preconceito saiu do armário com uma violência inimaginável.
“Ei, Dilma, vai tomar no…, vagabunda, puta, bandida…”.
Jamais um presidente da república tinha sido tratado daquela maneira.
Do alto da sua sabedoria, a classe média se manifestava.
Jalecos, capas, togas, gravatas, tudo foi direto para o lixo.
As máscaras caíram e importantes personagens e segmentos da sociedade se desnudaram.
Eterna candidata ao ingresso na elite, a classe média estava nua.
O preconceito e o ódio deixaram as esquinas e vieram para as principais avenidas e praças do país.
As avenidas paulistas se multiplicaram pelo Brasil.
Tudo se tornou possível e permitido aos olhos de determinados segmentos da sociedade, desde quando fosse para destruir um homem e um partido.
Tiveram como mentor a Rede Globo. E o resto da imprensa, já que disso não passam; resto.
Eram todos Cunha.
Agora o condenam como inimigo do Brasil.
Só souberam agora quem ele é?
São todos Gilmar Mendes e Sérgio Moro.
Entre tantas outras coisas, o ministro Gilmar Mendes se notabilizou por dar Habeas Corpus a inúmeras figuras ilustres no Brasil, como o banqueiro Daniel Dantas e o médico Roger Abdelmassih, para citar somente dois. Ninguém se importou nem questionou a seriedade desses Habeas Corpus, tratando-se de dois homens que feriram frontalmente os interesses do país e a honra de muitas mulheres.
Entre muitas ações juridicamente ilegais de Moro, condenadas por advogados, professores de Direito e juristas renomados, algumas se destacam.
A gravação ilegal da conversa entre Lula e a presidenta Dilma Rousseff e a sua divulgação para a Globo e o resto da imprensa.
A analogia que se fez à época mostrava bem o absurdo sob todos os aspectos e mais ainda sob o jurídico; alguém consegue imaginar um juiz de primeira instância fazer isso com uma conversa entre Obama e o ex-presidente Bill Clinton?
No país símbolo deles e do próprio Moro, no mesmo dia o juiz seria preso.
No Brasil, coube tão somente um puxão de orelhas, que ninguém viu, ao juiz Moro vindo de um covarde e vergonhoso STF, através do então ministro Teori Zavascki.
Nada mais.
A condução coercitiva de Lula, que gerou orgasmos múltiplos nos segmentos de baixo nível mental e intelectual do país, feriu não só conhecimentos elementares do Direito, como o mínimo de bom senso que mesmo seres intectualmente frágeis possuem.
Diante de tamanho poder demonstrado pelo juiz-delegado-promotor, como não chegar ao topo do autoritarismo que, como todo autoritarismo que se preze, atinge o ridículo com extrema facilidade
E sua excelência, o juiz Sérgio Moro, presenteia a sociedade brasileira com a ridícula imposição da obrigatoriedade de Lula ter que comparecer aos 87 depoimentos das testemunhas arroladas por seu advogado.
Até Reinaldo Azevedo apontou para o absurdo da decisão e criticou Moro.
E, diante do desespero do juiz, joga-se a última carta no jogo de baralho que eles mesmo armaram; tentam barganhar a liberação de Lula da obrigatoriedade imposta com a proposta de diminuição do número de testemunhas às quais ele teria que assistir.
Ridicularizando-o mais ainda, Lula fez Moro menor do que é.
Disse que se fosse necessário ele, Lula, mudaria para Curitiba por algum tempo, mas estava à disposição dele para assistir a todos os depoimentos.
Apesar de já ter demonstrado outras vezes o seu nervosismo, ali estava mais uma prova contundente do seu desejo de demonstrar a força que já não tem mais, ainda que continue poderoso pela retaguarda Global que tem; uma ridícula tentativa de imposição da sua autoridade e uma mais ridícula ainda tentativa de barganha.
Resultado.
O TRF-4 desautorizou Moro a obrigar Lula ter que estar presente nos depoimentos.
Dispenso-me de comentários sobre esse mesmo TRF-4. Neste caso, entretanto, não tinham como agir em parceria com Moro, tamanho o ridículo e o grotesco da intenção do juiz.
Alguma ilusão de que algum dia irão perceber o que alimenta a postura do juiz Moro e os riscos que isso representa para o Brasil?
Nenhuma.
Estiveram com Gilmar Mendes e o STF durante todo o tempo, mas agora assumem postura fascista contra Gilmar Mendes pela soltura de José Dirceu, cuja prisão é reconhecida como abusiva e irregular.
Como sempre, não têm a menor ideia de coisa nenhuma para perceber que Gilmar Mendes em nada mudou.
Muito menos o STF.
Gilmar acabou de proibir qualquer investigação sobre Aécio.
Na verdade, estão somente usando José Dirceu como adubo para o que virá na sequência.
Aguardem só mais um pouquinho, não demora.
Entenda uma coisa.
A Lava Jato chegou onde não queria.
PSDB.
Era simplesmente inevitável.
Mas a chegada ao PSDB não se deu, como mais uma vez mentes débeis imaginam, pela luta contra a corrupção (meu Deus!!!).
E chegou ao PSDB com provas, não por convicção.
Provas que não foram investigadas e descobertas pela Lava jato, mas oferecidas pelos delatores.
Provas!!!
Já tinham “chegado” lá desde o início, mas seguraram até onde puderam.
Mas, sem querer, a Lava Jato chegou além, muito além.
Você já ouviu falar de algum tríplex no Brasil?
Ah, com certeza.
Mas já ouviu falar do triplex de Paraty (RJ)?
Um triplex com praia particular cercada por seguranças.
Um triplex que nem por embarcação se chega (a não ser com autorização dos donos) porque a praia onde foi construído (em área de preservação ambiental, o que torna irregular o seu uso) é protegida por redes.
Um triplex aonde também se chega de helicóptero.
Você faz ideia de quem são os donos?
Você sabe das ligações desse tríplex com o grupo Mossack Fonseca?
Você sabe que grupo é esse, Mossack Fonseca?
Você sabe que a Lava Jato prendeu 5 membros da Mossack Fonseca imaginando que tinham ligação com Lula e o tríplex da OAS e quando soube do que se tratava imediatamente os cinco foram soltos?
Você sabe do que se tratava?
Busque informações sobre esse episódio.
Não, não busque na Globo. Você vai continuar como está.
Sem saber de nada.
Como eram todos Cunha e não são mais (por que será?), eram e ainda são Temer (até quando for conveniente; não são muito dignos?). O PSDB, como sempre, na primeira fila.
Foi particularmente no pós-eleição que a tristeza à qual me referi fincou sua bandeira no peito dos brasileiros.
Como estar alegre se vejo com a clareza do Sol que entra pela minha janela neste exato momento que segmentos importantes desse país fizeram e fazem parte de todo esse processo?
Como estar alegre se, para o espanto de todos, pela primeira vez na história contemporânea do Brasil professores por esse país afora fizeram e fazem parte disso?
Como estar alegre se vejo títulos acadêmicos que “nos fazem” diferenciados mostrarem toda sua fragilidade e desimportância diante dos reais valores da sociedade brasileira?
Como estar alegre se vejo com clareza que esses “diferenciados” se deixaram conduzir tão facilmente pela Globo e o resto da imprensa?
Como estar alegre se vejo que, com todo o poder que emana do “ser professor”, induziram alunos e ajudaram segmentos adoecidos da nossa sociedade a “construir” este país que aí está?
Um país inchado de preconceito e ódio.
E corrupção.
Não percebem, entretanto, que o preconceito e o ódio disseminados ficaram impregnados somente nas suas mentes doentias, mas não conseguiram implanta-los no seio do povo brasileiro.
Não percebem que nada propõem, só se repetem em palavras, gestos e ações violentas e por isso se tornaram cansativos, chatos e repulsivos.
Não percebem que quanto mais tentam instilar o preconceito e o ódio na alma do brasileiro mais geram indiferença e desprezo.
Banalizaram de tal maneira que o preconceito e o ódio só crescem no estado patológico que criaram e no qual vivem.
Denuncismo midiático repetitivo, cansativo, onde as manchetes são requentadas a cada momento de necessidade maior, como as vésperas de um depoimento, numa clara demonstração de que nada encontram para incriminar o alvo.
Compartilhamento dessas denúncias requentadas nas redes sociais, numa evidente exibição da pobreza que habita essas pessoas tão carentes de tudo.
Ah, como já foi nobre a nossa função!
Como foi lindo acreditar que nos cabia, como professores, formar jovens que viriam a ser homens e mulheres que lutariam pela soberania do país e seu povo!
Como já foram plenos nossos corações e almas!
Oh, como fomos reduzidos a tão pouco.
Não, por favor, não falem de luta contra a corrupção ou qualquer outra coisa.
Encontro enorme dificuldade para acreditar que homens e mulheres tão diferenciados pelo nível de formação que possuem não conseguem ver, por exemplo, como estão conseguindo as delações de última hora dos mesmos homens que já prestaram seus depoimentos inúmeras vezes e agora, condenados a 30-50 anos de prisão, ao “vislumbrarem” a saída da prisão em breve, fizeram um “novo” depoimento.
Não se violentem tanto.
Diante do que estamos vendo, a indignidade seria maior ainda.
“Eu olho-os com olhos lassos
Há nos meus olhos ironias e cansaços
E cruzo os braços
E nunca vou por ali…”
José Régio
Obs. Dedico a todos essa magnífica interpretação de Paulo Gracindo de um bonito e breve texto inicial de Antônio Maria, poeta e compositor brasileiro, incorporado ao belo poema “Cântico Negro”, de José Régio (Zé Régio, como Gracindo diz no momento em que une os dois textos), poeta português. Retirado da peça “Brasileiro, Profissão: Esperança”, de Antônio Maria.