Onde não nascem fortes

Por Ronaldo Souza

Como deputado, passou 28 anos de sua vida xingando, ofendendo e agredindo mulheres, negros e índios, todos, por razões diversas, pessoas pertencentes a segmentos mais vulneráveis e fragilizados.

Nada mudou.

Não compareceu a nenhum debate na campanha presidencial, fugiu de todos.

Escondido atrás de ridículos atestados médicos, ia para outra emissora de TV dar longas entrevistas na mesma hora dos debates.

Recorrendo a atestados médicos como fez, ridicularizou-os à vontade, num absoluto desrespeito à classe médica que calada estava, calada ficou, calada está e calada vai permanecer, em flagrante contraste com tempos recentes, tempos em que sempre foi tratada com respeito.

Estão preocupados com princípios esses profissionais?

Gestos e atos vergonhosos do então candidato e atual presidente não representam nenhuma novidade, muito pelo contrário.

Gestos e atos vergonhosos da classe médica até hoje não foram explicados à sociedade.

Vergonhoso.

Vergonhoso e deprimente foi também o encontro com Putin, em Davos, em 2019.

Talvez a covardia nunca tenha sido tão explícita. 

As explicações que deu só o tornaram mais ridículo, o que não se imaginava possível.

Depois de tamanho fiasco, não foi a Davos agora em 2020.

Fugiu de novo.

A incompetência que pairou sobre Davos, quando era recém eleito, foi tão grande que tremeu de vez e o fez acovardar-se novamente.

Não se tem notícia se mandou atestado médico para justificar sua ausência.

Já disse várias coisas no governo para logo depois recuar por pressões que sofre.

Em uma das recentes, disse que ia tirar a secretaria de segurança do ministério da justiça.

Pressionado (houve quem preferisse dizer ameaçado; por quem???), recuou mais uma vez e disse que não ia mais tirar.

Depois de fazer elogios rasgados ao novo ministro da cultura, expressão do seu nazismo escancarado-enrustido, e agradecer por ele ter a coragem de aceitar o cargo, “demitiu-o” cerca de 48 horas depois.

Mas, corajoso como sempre, não teve coragem de demiti-lo pessoalmente (por isso o “demitiu-o” está entre aspas).

Pediu aos ministros que avisassem a ele que estava demitido.

Mas, quem apareceu diante das câmeras (por favor, alguém aí pode perguntar a Moro se aqui devo usar câmara ou câmera?) e microfones para anunciar a demissão?

Ele.

O mico.

O valente.

O destemido.

Enquanto isso, o outro, sempre humilhado e se humilhando mais, aceita tudo porque não pode perder espaço na mídia.

A dignidade pelo emprego.

O caçador implacável de corruptos (como eles aparecem nesses momentos de grande porre da sociedade) chegou ao ponto de tirar o miliciano amigo do chefe da lista de procurados.

O homem agora aparece assassinado.

Os de sempre, da imprensa e eleitores que constituem a reserva selvagem do presidente e que tanto falavam de queima de arquivo, agora se calam.

O que poderia ser um momento único de combate à corrupção, em que crimes de corrupção e assassinatos coexistem no mesmo cenário, em que estão diretamente envolvidos a família presidencial e colaboradores, será jogado para debaixo do tapete, como há tempos acontece com outros casos, como o de Marielle.

Sob o olhar que nada vê de dois heróis nacionais.

Enfim, heróis que não se sustentam em pé e por isso se seguram um no outro, mesmo sabendo que se traem mutuamente.  

Ocorre que há muito tempo o presidente já sabe que é traído dentro do seu próprio governo, o que o torna mais inseguro ainda. Daí as idas e vindas nas decisões tomadas, sob os aplausos do seu rico auditório.

O outro, bem munido de informações, que alguns chamam de dossiês, e de olho numa vaga no STF ou na candidatura à presidência, o que sobrar, faz qualquer negócio.

Só não pode “é perder esse emprego”.