Quando a ignorância se apossa do saber

Professor Raimundo

Por Ronaldo Souza

E chegamos lá.

Ao fundo do poço.

Quem, após tantas e tantas críticas pesadas à ignorância de um torneiro mecânico analfabeto, que não fala inglês, poderia imaginar que um analfabeto que frequentou a escola seria hoje a grande esperança de segmentos importantes da sociedade?

Quem, após tantas e tantas críticas pesadas à ignorância desse torneiro mecânico, poderia imaginar que esse analfabeto que frequentou a escola seria hoje a grande esperança dos homens que detêm o saber?

Esclareçamos que não falo da grande esperança na construção de um país justo, educado, civilizado, sem violência.

Um país que até há pouco sorria para as crianças apontando-lhes um futuro promissor e que hoje ensina a criança a apontar o dedo não na direção de algo que deseja, mas como uma arma.

Não, a grande esperança dos detentores do saber nesse analfabeto que frequentou a escola não é por qualquer possibilidade de ver o país e seu povo avançarem.

A grande esperança dos detentores do saber nesse analfabeto que frequentou a escola é no sentido de que ele possa ajudar no projeto de destruição do torneiro mecânico que, como presidente, criou mais empregos, construiu mais escolas e universidades e mais acesso a elas, como nunca antes na história desse país.

A grande esperança dos detentores do saber nesse analfabeto que frequentou a escola é no sentido de que ele possa ajudar a destruir o partido que tornou lei a aplicação de 75% dos royalties do petróleo para a educação e 25% para a saúde e 50% dos recursos do Fundo Social do Pré-Sal para esses mesmos setores.

Dilma e Pré-Sal

Professor, você prestou atenção no que acabou de ler?

A aplicação de 75% dos royalties do petróleo para a educação e 25% para a saúde e 50% dos recursos do Fundo Social do Pré-Sal para esses mesmos setores já era lei.

Você, professor, que detém o conhecimento, sabe que a lei que destinava 75% dos royalties do petróleo para educação e 25% para a saúde e 50% dos recursos do Fundo Social do Pré-Sal para esses mesmos setores não existe mais?

Graças a esse analfabeto que frequentou a escola e seus comparsas, 75% do Pré-Sal hoje já pertencem à companhias internacionais de petróleo.

Todos os investimentos sociais foram congelados por 20 anos.

Quanto incentivo e criação de mecanismos para o crescimento da pesquisa foram feitos e que agora foram congelados por 20 anos, professor!

Professor, com a sua grande colaboração, foi-se o futuro dos nossos filhos e netos.

E pela sua participação só posso crer que os seus filhos e netos não fazem parte desse grupo sem futuro.

Certamente, como você se imagina parte dela, imagina que eles também constituirão a elite desse país.

Por que perder tempo falando dessas e de tantas outras bobagens, não é mesmo?

Tudo já foi dito e mostrado, mas nada tem importância, porque nada que tenha sido feito por governos do partido pecador interessa ou será reconhecido.

E para participar desse nobre momento, professor, você não mediu esforços.

No seu douto saber, permitiu-se até protagonizar um dos dias mais patéticos da recente história política brasileira, quando, sob o comando da Globo, vestiu luto.

Como se permitiram descer a nível tão degradante, como um rebanho que é levado ao curral para ser marcado com o ferro da estupidez.

Como ficará registrado aquele dia na história do ensino brasileiro?

Dia em que, sem dúvida, você foi o heróis dos alunos, nos seus 17, 18, 20, 21 anos.

Que idade deliciosa e tão perigosa, não é mesmo?

Tanto chão por caminhar (que perspectiva maravilhosa!), mas tão desprotegidos.

Sujeitos, por exemplo, a professores que se vestem de preto, sob a batuta de uma rede de televisão, com seu canto da sereia inconfundível e sedutor incorporado às mentes brasileiras; plim, plim.

Aqueles 17, 18, 20, 21 anos um dia serão 40, 41, 45, 50.

Ainda que o atual momento do ensino brasileiro não me permita ter muitas ilusões nesse sentido, alguns daqueles alunos irão olhar para trás e se perguntar; o que fizeram os meus professores?

Que pena que, decisivos para a atual situação do país, agora estão sendo novamente decisivos, por escolha ou omissão, na tentativa de implantação do fascismo no país, aniquilando de vez qualquer possibilidade de futuro para os jovens desse país.

A nobre missão do professor.

Para que?

Hoje preferem difamar as pessoas e mais uma vez, particularmente, a mulher.

2. Manuela violentada'

Por que isso?

Quem se permite tamanha covardia?

Qual foi a intenção de distorcer tão grosseiramente a aparência de Manuela D’Ávila?

Qual foi a intenção de dar a ela esses olhos fundos, com enormes olheiras, tantas tatuagens, como se pertencessem a… ?

Uma drogada?

Quem é Manuela D’ Ávila?

   3. Manuela mulher 4. Manuela mulher'

Uma flor tatuada.

Por que essa violência contra Manuela D’Ávila (que coincidência, uma mulher), distorcendo cruel e covardemente a sua aparência e jogando-a às feras na arena, sedentas por mais um assassinato de reputação?

E a dignidade dela, foi para onde?

E a mãe?

5. Manuela mãe

Você, como alguém cuja sensibilidade está à flor da pele (ou para ser um bom professor isso não é necessário?), não consegue projetar isso para a sua mãe?

Ou para a mãe dos seus filhos?

Como ficam as crianças?

Se fossem seus filhos, abordados por covardes como esses, o que você seria capaz de fazer?

Se os visse ou os soubesse acuados e com medo, buscando a parede como apoio, como lutadores que buscam as cordas quando não têm como se defender, o que diria de quem age assim?

Saber, professor, que com sua omissão por encampar esse projeto, agressões como essa se alastraram por todo o país, como tem sido ver-se no espelho e perceber a aura da covardia envolvendo seu ser?

Canalhices como essa se incorporaram ao dia-a-dia desse tipo de gente.

Que pena que você tenha se apequenado ao ponto de permitir que o preconceito se transformasse em tanto ódio que, como todo ódio, se transforma em violência, e agora, aplaude e acoberta com sua omissão a violência explícita contra as mães, mulheres e filhos do Brasil.

Onde vão buscar motivação e proteção aqueles que ateiam fogo em índios, matam mulheres por confundirem com empregadas domésticas, matam homossexuais e negros por simplesmente serem homossexuais e negros?

Na impunidade da justiça e da podre estrutura que aos homens brancos protege.

O argumento de usar esse analfabeto que frequentou a escola para corrigir os rumos do país (meu Deus!!!) e depois botar lá (na presidência) uma coisa melhor, só faz de quem o usa um cretino completo.

Primeiro, a gente tira a Dilma, depois…

Lembra?

– Pra você ser burro, só ‘falta’ as penas.

– Idiota, burro não tem penas.

– Então não falta nada.

Esse “diálogo” fez parte da infância de muita gente, inclusive da minha.

Ah, a infância.

Nunca nos deixa.

– Pra você ser um canalha só faltam as penas.

– Idiota, canalha não tem penas.

– Então…

Ah, sim, tenhamos todos um bom dia de aulas.