Rodriguinho, um jogador sem valor

Por Ronaldo Souza

Rodriguinho não se deu bem lá pelas Minas Gerais.

Não seria, entretanto, a primeira nem a última vez que um jogador não corresponde às expectativas criadas em torno de si na chegada ao novo clube.

Sem esconder o seu desejo de voltar ao Corinthians, não foi esse o seu destino quando saiu do Cruzeiro.

Veio para o Bahia.

Incensado por torcedores e jornalistas, também no Bahia, nem de longe Rodriguinho conseguiu ser o que se imaginou.

Ainda dentro do normal.

E aí, o inusitado!

Chamou a atenção o fato de ele não conseguir conter a sua frustração quando chegou em Salvador, ao reafirmar o seu desejo de voltar ao Corinthians.

Acho que posso afirmar que nenhuma torcida deve ficar satisfeita ao ouvir de um jogador que está chegando para o seu time a confissão de que gostaria de estar chegando em outras praias.

A torcida do Bahia, corretamente, fez de conta que não ouviu aquilo e, como sempre se faz com relação a todos que aqui chegam, particularmente aqueles que terão a sorte de ser baianos pelo menos por um tempo, foi toda abraços e carinhos.

Muito provavelmente, Rodriguinho não percebeu o grande e afetuoso abraço que o envolveu assim que pisou em solo baiano.

E, como sabemos, as coisas não percebidas não têm importância.

“O Bahia tem um poder econômico bem interessante no momento, uma estrutura muito boa, time competitivo, um treinador de respeito, me deu mais estabilidade na carreira agora com um contrato de dois anos com opção de renovação por mais um. Agora sou pai de família, tenho uma certa idade também. O projeto de crescimento para os próximos anos me trouxe pra cá também e pelo Bahia ser o maior do nordeste também me convenceu a vir”.

Este é um dos trechos de uma entrevista de Rodriguinho, quando chegou ao Bahia.

Absolutamente normal para uma relação profissional.

  • Estabilidade – desejo e direito do jogador de futebol ou qualquer outro profissional. Apesar das dificuldades enfrentadas por todos por conta da Pandemia, inclusive os clubes de futebol, o Bahia está entre aqueles que melhor cumprem esse papel.
  • Pai de família – a estabilidade permitida pela relação com o clube é fundamental nesse processo. Mesmo diante das razões expostas acima, o Bahia está sabendo honrar o compromisso assumido com seus jogadores. Certamente, não será por isso que Rodriguinho deixará de exercer a condição de pai com tranquilidade.
  • Bahia, o maior do nordeste – Essa era a parte que cabia a Rodriguinho e seus colegas. Pelo menos manter o time na condição que ele próprio reconhece, com aspirações e condições de ser mais que isso. Está sendo cumprida?

Por saber da sua importância, Steven Spielberg já pediu desculpas por “privilegiar” a imagem em detrimento da palavra.

Ele sabe do peso que ela possui.

A palavra dita pela alma ganha o coração de um povo.

Mas aquelas ditas pela boca não passam de meras palavras, sem nenhum valor.

Foi no que se transformaram as palavras iniciais de Rodriguinho.

Ainda que possa existir em situações bem específicas, os tempos de amor à camisa se foram. Hoje, é exceção e não regra.

Não se pediu isso em nenhum momento e não se pede agora.

No entanto, o descompromisso, a indiferença pelos resultados, a apatia em campo e a falta de luta desonram o pai diante do filho, ainda que este, pela idade, não tenha a compreensão para tal.

Por tudo isso, mas principalmente pela palavra dita em nome do filho recém nascido (afinal, o que representa citar a condição de pai se não justificar ações e gestos pelo filho que se pretende honrar?) e pelo futebol que já demonstrou ter, Rodriguinho deveria representar uma liderança importante nesse momento que atravessa o time.

Mas não é.

Ele não parece ter a menor noção do que significa um time manter os seus compromissos com os seus jogadores nessa conjuntura tão louca que envolve o nosso futebol, ainda mais para aqueles que não possuem um “caixa” tão forte quanto os reconhecidos como ricos e poderosos.

É lamentável ver como ele ignora o que passam, como vivem e o que sofrem milhões de torcedores no país do futebol quando veem o seu time oferecer todas as condições para que seus jogadores e suas famílias sejam bem tratados e felizes, como devem ser, mas não veem o menor compromisso com o clube.

No caso em particular, numa torcida de massa como é a do Bahia, não faz ideia de quem são na sua grande maioria esses torcedores e por isso, no seu alheamento e indiferença, ignora e despreza o seu sofrimento.

Como atenuante, talvez até se pudesse utilizar o seu início, em que chegou a fazer alguns gols e depois a fissura que teve no pé, afastando-o do gramado por algum tempo. 

Entretanto, o fato de não se cuidar como deve um jogador de futebol profissional, representa um agravante importante.

E que não se argumente com o fato de que a vida pessoal do jogador só a ele cabe.

É verdade, contanto que não interfira no seu rendimento dentro de campo e não é isso que fica configurado quando se observa a sua condição física.

Se algum dia acontecer de o seu filho perguntar se ele soube ter uma relação de respeito com aquele time que o seu dedinho aponta, Rodriguinho não poderá olhar nos olhos dele e dizer que sim.

Ao não perceber os reais valores envolvidos em momentos como esse, Rodriguinho se tornou um jogador sem valor.

Sem dignidade, não há glória.