Te perdoo por te trair

Bolso, porra, é legal ser presidente

Por Ronaldo Souza

Hoje faço ao contrário.

Primeiro, o interessante texto da jornalista Denise Assis. Depois, lá embaixo, converso com você.

Bolso traição'

Te perdoo por te trair

Por Denise Assis, jornalista

O que não dá para engolir é o discurso de Gustavo Bebianno, a muito pouco tempo
das eleições municipais, e muito tempo depois de descer do (des)governo

Nem precisava dos resultados da última pesquisa, que aponta uma rejeição de 40% a Bolsonaro, para saber que as fileiras dos arrependidos de optar por apoiá-lo, só fazem crescer. Dos menos ostensivos, como o cantor Fagner, aos mais ruidosos nos comentários sobre o conjunto de ações que nos legaram esse momento/vergonha, há de tudo. Inclusive o cineasta José Padilha, diretor do filme B, “O Mecanismo”, que pretendeu retratar (e incensar) a operação Lava-Jato – hoje transformada em Vaza-Jato. Isto, sem esquecer de mencionar o cantor e compositor Lobão, um dos mais entusiastas na defesa do candidato, no período da eleição.

Para esses, olhamos com certa benevolência. Boa vontade mesmo, murmurando: “perdoai-os senhor, eles não sabem o que fizeram” … O que não dá para engolir é o discurso de Gustavo Bebianno, a muito pouco tempo das eleições municipais, e muito tempo depois de descer do (des)governo.

Ora, Bebianno. O senhor foi um dos coordenadores da campanha, conviveu com esta pessoa, revirou o seu passado para transformá-lo em um produto a quem os desavisados chamaram “mito”. O senhor foi responsável por vender para a sociedade este “sabonete”. Quem não sabia que ele era alguém irrecuperável, impermeável ao conhecimento e “misógino internacional”?

Depois de ser descido do cargo de secretário-geral da Presidência, seis meses e um dia depois o senhor vem a público nos falar de Bolsonaro como falamos nós, nas ruas, nos bares, nas passeatas e por todo o canto desse país. Seria crível, se não soasse oportunista, nesta hora em que se dá o troca-troca de partidos, e a discussão para nomes a candidaturas para as eleições municipais.

Bem-vindo ao time. Mas quando é que o senhor vai nos revelar os bastidores da campanha, de que participou ativamente e, não vamos esquecer, é motivo de processo no TRE (talvez se saiba o resultado lá por 2030)? O que o senhor tem a nos falar sobre o uso de abuso econômico, para bancar o jorro de “fake news”, cujo time de envio é definido pelos coordenadores do comitê da campanha? E sobre o episódio da “facada”, que o senhor acompanhou de perto, como braço direito do candidato? E o almoço com o porta-voz da Globo, na véspera do segundo turno, para pegar “bizus” de assessoramento?

Aqueles arrependidos citados acima puderam entrar e sair do bonde do “mito” quando bem quiseram. A eles é facultado do direito de alegar – embora já bastante crescidinhos para isto – que se equivocaram. Não emprestaram serviços para obtenção do resultado. Quanto ao senhor, a sua indignação tardia, o seu silêncio cúmplice, como já foi dito acima, soa oportunista. A construção do “mito” foi sua. 

Em entrevista para o jornal, O Estado de São Paulo, no dia 18 de agosto último, o senhor disse: “Acho que posso ajudar minha cidade que está um caos. O Rio precisa hoje de menos ideologia e de melhor gestão, mais eficiência. Como gestor, acho que posso ajudar de alguma maneira, não necessariamente como prefeito. Recebi alguns convites e, na hora certa, vai ser decidido”. Pelo seu afiar de bico, não é difícil saber em que muro estará em 2020. Guarde a sua indignação. O caos que vivemos hoje, em todo o país, já está debitado na sua conta.

Mil Perdões

Por Ronaldo Souza

Volto a falar com você.

Primeiro, para comentar o título do texto de Denise Assis.

“Te perdoo por te trair” é de uma obra prima de Chico Buarque (“Mil Perdões”) que, por sua vez tem a ver com a peça de Nelson Rodrigues, “Perdoa-me por me traíres”.

Venha comigo.

“Te perdoo por te trair” não seria “Te perdoo por me trair”?

“Perdoa-me por me traíres” não seria “Perdoa-me por te trair”

O que ambos, Chico e Nelson, fazem com  música e peça respectivamente deveria fazer parte de cursos de Psicologia e Psicanálise.

Acredito até que alguns façam isso.

Em segundo lugar, penso como a jornalista Denise Assis quanto a (Gustavo) Bebianno.

Por homens como ele não tenho nenhum respeito, e não posso defini-los como gostaria porque seriam grandes as chances de ser processado.

Como ele, gente como Miguel Reali Jr., o jurista que comandou o processo do golpe contra Dilma (que chamaram de impeachment, tentando emprestar-lhe alguma dignidade) e já se confessou arrependido.

Você sabia que logo após o golpe a justiça brasileira inocentou Dilma Rousseff?

Pois é, fique sabendo.

Mas vou discordar da jornalista quanto a outros e começo com o cantor Fagner, um babão bobão.

José Padilha é imperdoável. Fez a apologia de Bolsonaro e Moro diversas vezes, inclusive nos seus filmes, onde colocou Moro como herói e a Lava Jato como a redenção do país.

Hoje, Padilha não perdoa Moro, a quem finalmente reconheceu como um grande oportunista. Disse que “seu pacote anticorrupção é, também, um pacotinho de chiclete que parece ser de tutti-fruti, mas na verdade é de pimenta.”

Mas, convenhamos, Padilha não é nenhum garoto e não consigo ver como inocência a sua postura inicial.

Essa inocência, no nível em que se deu, ou seja, ultrapassando com incrível facilidade a fronteira com a completa estupidez, é inadmissível em um cineasta que se preze.

Moro é um oportunista covarde.

O ex-todo poderoso tem sido humilhado de todas as formas pelo mico.

Alguém que se acovarda dessa maneira por causa de um cargo não é homem de verdade.

Os holofotes, aos quais perigosamente se acostumou, não podem se apagar, o que aconteceria com a sua saída do palco do governo.

Hoje, sem honra (ao ponto de membros importantes da Polícia Federal pedirem para ele se demitir em nome do pouco que ainda lhe resta de dignidade), luta desesperadamente para se manter no cargo.

O juiz que ajudou a perseguir, orientou os procuradores, comandou a agenda da Lava Jato, julgou e condenou o homem que estaria hoje na presidência da república.

Presenteado com um cargo no governo eleito, não só desonradamente o aceitou como briga desesperadamente para não perde-lo.

Pare pra pensar e você verá que Moro mostra claramente que todo o tempo agiu por aspirações políticas.

Miriam Leitão e mesmo Merval Pereira, ela principalmente, não merecem nem um pingo de compreensão, muito menos de credibilidade.

A empresa na qual trabalham, a Globo, é a grande responsável pelo Ovo da Serpente.

Moro nem se fala, mas também Bolsonaro, são frutos da Globo e não acredito que nenhum dos seus jornalistas desconheça essa paternidade e o que ela significa.

Sugiro aos iletrados miquinhos amestrados que procurem se informar do que se trata.

Já há um sem-número de pessoas arrependidas por terem votado em Jair Bolsonaro, algumas das quais já manifestaram o seu arrependimento.

Deixemos de lado, pelo menos por ora, as razões que os levaram a gesto de tamanha insanidade.

As pesquisas mostram que o mico segue ladeira abaixo e não há previsão de quando e como tudo isso vai terminar.

O mico derreteu, acabou.

Hoje é um homem ridicularizado e desprezado em todo o mundo e está completamente perdido e desesperado.

O envolvimento da sua família é assustador e vergonhoso, por isso, abafado a qualquer preço.

Há sim pessoas que foram enganadas na sua boa fé e não haveria porque condena-las pela inocência.

Não teria, entretanto, um tratamento tão compreensivo com muitos deles, alguns dos quais citei aqui.

Os interesses foram e continuam sendo muitos.

Lucraram muito, a corrupção tem sido grande e está correndo solta.

Mas os miquinhos amestrados continuam rosnando e latindo todos os dias nas redes sociais em nome do combate à corrupção.

Sem comentários.

Vejo-os com alguma frequência quando “entro” no “feicibuqui” para fazer uma postagem com o link para o meu site.

Sabemos que é a eles particularmente que o mico se dirige e que por eles é mantido.

Imaginava-se que fossem em maior número, talvez pelo fato de que latem muito e alto, porém, pelos últimos resultados das pesquisas Vox Populi e DataFolha, o número é bem menor, cerca de 12%.

Esta é a parcela que se propõe a continuar entrincheirada atirando para todos os lados tentando salva-lo.

Ainda que isso signifique muita gente, é um segmento bem menor do que aquele que votou nele (as pesquisas estão mostrando a grande queda que vem ocorrendo na sua aceitação em todos os segmentos da sociedade), o que parece querer mostrar um erro de estratégia do mico.

Alimentar-se de 12% dos eleitores, a “reserva selvagem” de Bolsonaro, como bem definiu o jornalista Fernando Brito, não deve permitir grandes voos ao ex-capitão daqui em diante.

Por falar em voo, vamos voar um pouco com a música de Chico.

É coisa de Chico, esse gênio das artes brasileiras.

Só ele poderia fazer algo assim.