Um metalúrgico presidente ou um presidene metalúrgico?

Todos temos os nossos segredos. Alguns, contamos para os amigos. Alguns, só para o melhor amigo. Outros, só para nós mesmos. Mas, existe um tipo de segredo da nossa personalidade que nem para nós mesmos contamos. São aqueles que não queremos aceitar. Costumo dizer que são os nossos pontos escuros. São os sentimentos que sabemos existirem, mas que nos trazem desconforto.

Convivemos socialmente à custa de sentimentos nobres; carinho, afeto, dedicação, amor, compreensão, solidariedade… Nos momentos de discussão, de ira, veem à tona sentimentos menores, porém reais; indiferença, incompreensão, ódio, vingança. Instintos mais primitivos que teimam em escapar do nosso controle. O homem é assim.

Voce vê alguém dizer, sou ladrão, sou cruel, sou um assassino (em potencial)? Se alguém, em momento de extrema ira, diz eu vou lhe matar e aquela pessoa morre, o que disse pode se tornar o primeiro suspeito, quando na verdade, foi só o desabafar de uma mágoa, ele “jamais” concretizaria o dito no momento da ira.

Não é politicamente correto, e muito difícil de ser visto, expor os sentimentos menos nobres. Você é racista! Não, não sou não, inclusive tenho vários amigos pretos. Às vezes na frase, em como ela é dita, já está lá. Isso é compreensível (aceitável é outra coisa), afinal, socialmente, não devemos ser o que somos, mas o que precisamos ser. Somente isso pode explicar muitas coisas à nossa volta.

Como nação, há um sentimento antigo, enraizado, que parece fazer parte do nosso DNA. Somos um país de terceiro mundo. Paciência, é o Brasil, aqui é assim. Se fosse nos Estados Unidos…

Um breve parêntese. A indústria da seca, como ficou conhecida a miséria no nordeste brasileiro, sempre foi lucrativa para muitos. Mas, além desse plano, foi um processo tão longo, tão devastador e motivador de anos de migração para as pessoas dessa região, que criou uma sub-raça, uma raça inferior. Uma raça sobre a qual incide um preconceito que não se explica. Para isso, pasme, até o sotaque contribui. Fecha o parêntese.

Por incrível que possa parecer, esse mesmo comportamento pode ser observado em boa parte das elites brasileiras. Os destinos do terceiro mundo, onde há séculos está inserido o Brasil, devem ser resolvidos pelo primeiro mundo. Não nos cabe decidir sobre o nosso destino. Sempre foi assim. Quem é o Brasil para determinar o seu próprio futuro? Autonomia é algo a que não temos direito. Muito menos opinar sobre as coisas do mundo.

Todos os que têm o hábito de viajar pelo mundo sempre afirmaram que ao dizer a senha “sou do Brasil” vinha de imediato a identificação: ah! Pelé, carnaval, samba. A alegria reinava. A isso se limitava o reconhecimento internacional do Brasil. E todos voltavam satisfeitos. Com a bagagem cheia de compras.

As mudanças ocorridas têm permitido um posicionamento diferente do Brasil, que saiu da condição de mero coadjuvante, sem nenhuma importância, para a de protagonista. Para citar uma delas, de devedor do FMI passou a credor, algo jamais visto na nossa história.

A mobilidade social causou admiração em toda a comunidade internacional. Mais de trinta milhões de brasileiros saíram da miséria e outros mais de vinte milhões migraram das classes D/E para a C (dados oficiais do IBGE).

Naquela que é considerada a maior crise internacional dos últimos 80 anos, o Brasil foi apontado como o último país a entrar e o primeiro a sair dela, como uma prova da força da sua economia. O seu presidente tem sido destacado pelos mais importantes jornais e revistas do mundo e comunidade internacional como um dos estadistas mais importantes e influentes da atualidade.

Veja o que diz o inglês Jim O’Neill, economista-chefe do banco norte-americano Goldman Sachs (ganhou notoriedade mundial ao criar, em 2001, o termo Bric, grupo de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China) sobre as eleições de 2010. “É fundamental que, independentemente de quem ganhe, o novo presidente mantenha o sucesso de atingir as metas para a inflação e tenha a mesma habilidade notável do Lula para se envolver com todos os espectros da sociedade”.

(Quase) todo mundo sabe que o governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso sempre contou com o apoio total e irrestrito da grande (?) imprensa e por ela ainda hoje é blindado. (Quase) ninguém sabe, mas a blindagem ao candidato dele, o Sr. José Serra, é muito maior. (Quase) todos conhecem as razões para isso.

Recentemente foi divulgada pela grande (?) imprensa a queda na linha de miséria no país. O Jornal Nacional deu com grande ênfase: Caiu a linha de miséria no Brasil. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, apoiados em indicadores do IBGE, desde 1995 a miséria vem caindo no país.

Vamos aos fatos. A notícia só é verdadeira quanto ao fato de que são dados oficiais levantados pela FGV em cima de indicadores do IBGE, mais nada. Veja aqui a verdade.

Vamos só reavivar a memória. Por causa do impeachment de Fernando Collor de Melo, Itamar Franco assumiu a Presidência da República de 29 de dezembro de 1992 a 31 de dezembro de 2004. Fernando Henrique Cardoso assumiu no dia 1 de janeiro de 1995 e governou até dezembro de 1998 e foi reeleito, governando de 1999 a 2002 (dezembro). O atual presidente passou a governar de 2003 a 2006, quando foi reeleito, e o segundo mandato vai de 2007 até os dias atuais.

Percebeu nos dados da FGV/IBGE que de 1992 a 1994 (Itamar Franco) houve realmente uma queda na linha de miséria? De 1995 a 2002 (Fernando Henrique Cardoso) ela
se manteve estável e voltou a cair de 2003 a 2009 (atual governo). Deve ser lembrado que aí não estão computados os dados de 2010, ano em que houve forte reaquecimento da economia brasileira e que se estima um PIB acima de 9% (IBGE), recorde absoluto em toda a história do país e que deverá ser o 2o ou 3o do mundo.

Um metalúrgico presidente, prova inconteste do amadurecimento da nação e de sua democracia. Ao escravo era dado o direito de acesso à Casa Grande. Era importante para o momento da história, a abolição da escravatura. Chamava a atenção do mundo, era até folclórico (um novo Lech Walesa*). Não sabia ele que a sua permanência não era o que tinha sido traçado pelos senhores da Casa Grande. Um metalúrgico presidente, sim, um presidente metalúrgico, não.

O texto abaixo corresponde a uma enquete feita pelo Valor**.
 
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi bom para o setor empresarial e será lembrado como um período de forte crescimento do setor produtivo, segundo empresários e dirigentes de grandes grupos industriais. Em enquete realizada pelo Valor na terça-feira, na entrega do prêmio "Executivo de Valor 2010", todos os que responderam à sondagem informaram que suas empresas cresceram de forma significativa nos últimos oito anos. Dos 142 empresários que participaram da pesquisa, nenhum disse que nesse período sua companhia estagnou ou encolheu. No entanto, a maioria pretende votar na oposição na eleição presidencial de outubro. José Serra (PSDB), ex-governador de São Paulo, recebeu 78% dos votos. A candidata do presidente Lula, ex-ministra Dilma Rousseff, teve 9% das intenções de voto. A pré-candidata do PV, senadora Marina Silva, conquistou 5,6% dos votos e o deputado Ciro Gomes, do PSB, teve apenas um voto, 0,7% do total.

O governo Lula é bem avaliado, segundo a sondagem: 52,8% consideram a gestão ótima ou boa e três em cada quatro empresários disseram que suas companhias ganharam muito no governo Lula. Apenas 6,3% classificam a administração como ruim ou péssima. A visão positiva em relação ao governo, entretanto, ainda não foi convertida em intenção de voto para a petista. Entre os que informaram que suas empresas cresceram muito, Dilma recebeu 9,3% dos votos e Serra, 79,4%.

Clique aqui para ver a veracidade da informação em “O voto dos empresários” no Valor on line, mas você vai ver que é só para assinantes. Aqui você consegue ler o texto, no Luis Nassif on line.

Você acha difícil explicar o voto dos empresários?

Apesar de todas as mudanças no panorama nacional e de todo o reconhecimento internacional, o homem que está à frente do processo, em cujo governo todas essas mudanças ocorreram, tem sido frequentemente insultado, desrespeitado. Na Internet proliferam e-mails tentando ridicularizar a sua figura. Em nenhum momento, a sua justa indignação jamais chegou perto da virulência com que tem sido atacado.

Jamais um homem, que por coincidência é o Presidente da República, foi tão humilhado. Por que será?

São os nossos pontos escuros falando mais alto.

 

* Lech Walesa – Operário polonês que se tornou presidente da Polônia (1990-1994) e não foi bem sucedido.
** Valor (Econômico) – Jornal sobre economia, tido como a mais completa cobertura sobre economia, negócios e investimentos do país.