Utopia e Paixão

Por Ronaldo Souza

Enquanto escrevia Utopias e Desejos, lembrei-me de imediato de Roberto Freire; psiquiatra, jornalista, diretor de teatro e escritor, que criou a terapia denominada Soma; a Somaterapia.

Acho que li praticamente todos os livros de Roberto Freire: “Cleo e Daniel”, “Coiote”, “Ame e dê vexame”…, mas os livros dos quais me lembrei no momento citado foram “Utopia e Paixão” (título deste artigo) e “Sem tesão não há solução”.

A utopia está incorporada ao poeta, artista, filósofo, escritor…, faz parte da vida deles.

Mas, engana-se quem pensa que só faz parte da vida deles!

Quando perguntei no referido texto (Utopias e Desejos) “É possível viver sem utopia?”, já dei à pergunta uma conotação que insinuava que não, não é possível viver sem ela. Para logo em seguida dizer que “mesmo estando incorporada à vida, utopia é algo que muitas vezes foge da compreensão”.

Veja o belo depoimento de Eduardo Galeano, escritor uruguaio, autor de “As veias abertas da América Latina”.

Era admirável a paixão de Paulo Freire pelo ensino/aprendizagem, o que o tornou um educador respeitado, admirado e referência em todo o mundo.

De uma certa forma, o ensino/aprendizagem idealizado por Paulo Freire é uma utopia.

Utopia é paixão!

Ensino/aprendizagem é paixão.

Algumas palavras perderam importância e peso, de tanto que têm sido utilizadas com absoluta ausência de significado real. Tornaram-se um imenso vazio e cairam na vala das banalidades.

Amigo é uma delas.

O sentimento que nos faz realmente amigos é forte demais e nada tem a ver com a conotação que se dá há muito tempo à palavra. Que o diga o significado mais recente; o das redes sociais, onde todos são… amigos!

Banalizado também está o amor que se diz ter pela profissão/especialidade.

Sempre me causou arrepios ouvir em reuniões “amo meus alunos” e ouvir e ver coisas diferentes fora das “câmeras e microfones”.

Amo isso, amo aquilo e, diante da primeira oportunidade, num estalar de dedos, abandona-se isso e aquilo.

Estamos realmente precisando de cursos de harmonização. Almas e corações estão em desarmonia!

O que significa para o ensino, por exemplo, o pedido de redução de carga horária de um professor?

Dar aulas não nos transforma automaticamente em professores.

Ser professor é algo muito maior.

Não são muitos os que compreendem Paulo Freire e sua paixão pelo ensino.

Só trilha esse caminho, como diz Eduardo Galeano, quem sonha, quem delira, quem tem paixão, quem faz da utopia a sua forma de caminhar.

Sem tesão não há solução!