Voos sem controle

Glen bate em Moro

Por Ronaldo Souza

Moro, Dallagnol e Lava Jato sempre atacaram as palestras de Lula dizendo que eram uma forma de receber propina. Nunca tocaram nas de Fernando Henrique Cardoso, feitas nas mesmas condições.

Quando Dallagnol mostrou o famoso Power Point, fez questão de afirmar e não deixar sombra de dúvida de que Lula era o chefe da maior quadrilha de que se tinha conhecimento no Brasil.

Como duvidar dos paladinos da moral e da justiça?

Como duvidar dos homens de bem?

E o país seguiu o destino que lhe foi traçado pelos seus novos heróis; Moro, Dallagnol e Lava Jato.

Eles apontavam e prendiam os corruptos do país.

A presunção de inocência, cláusula pétrea da Constituição Brasileira, tinha sido abolida do Direito.

Por alguma razão estranha, que fugia da compreensão de muitos, todos os corruptos eram de um único partido; PT.

O PSDB era um partido inimputável.

Ainda que aparecessem com frequência, as provas de corrupção contra políticos como Aécio, Serra, Alckmin e Cia. eram simplesmente ignoradas e, em seguida, arquivadas.

Na campanha de Aécio à presidência, na qual vocês, cinicamente, fazem de conta que não tiveram nenhuma participação, tudo foi permitido a ele dizer e fazer.

Agressões e ofensas diárias, desrespeito absoluto a Dilma, tudo era permitido.

Com o apoio decisivo de Moro, Dallagnoll, Lava Jato (trio intocável), judiciário, MPF, mídia…

Os demais partidos eram deixados de lado.

E vocês fazendo o jogo sujo do compartilhamento e disseminação de todo o processo de mentiras, difamações e assassinatos de reputação nas redes sociais, tudo que pudesse atingir ao PT e seus membros.

A baratinha

Tudo era possível e permitido, menos para Lula, Dilma e o PT.

Absolutos e impunes, todos se sentiram à vontade.

Soltaram-se, sem pudor.

Sem amarras.

Todas as transações se tornaram possíveis.

Voltava a ecoar nas nossas cabeças a música de Chico Buarque.

Passava outra vez na “avenida um samba popular…”.

Estavam de volta “os barões famintos, o bloco dos napoleões retintos e  os pigmeus do boulevard”.

“Dormia a nossa pátria mãe, tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações”.

Mais uma vez, desfilava na avenida o samba da desfaçatez, da farsa, da corrupção.

Um carnaval em que velhos conhecidos outra vez se travestiam de homens de bem, em nome do combate à corrupção.

Nessa confraria, estavam todos eles, mas havia também a participação de novos membros.

Juntos e misturados, coube aos novos membros, “imaculados” que eram, representantes da “nova política”, da política que não é política, assumirem o papel principal.

Embriagados pelo carnaval, jogaram fora todas as rédeas.

E todos os cuidados.

E foi aí que em plena quarta-feira de cinzas, o Sol resolveu aparecer.

Os seus primeiros raios entraram pelas frestas da festa.

Glenn Greenwald e o The Intercept começaram a desnudar os bastidores dos guerreiros anti-corrupção.

E das trevas fez-se a luz.

Descobriu-se a volúpia de Moro e Dallagnol por poder e dinheiro, já revelada e cada vez mais confirmada em cada conversa entre eles registrada pela Vaza Jato.

Entre outras coisas, Moro e Dallagnol tinham se transformado em grandes palestrantes.

Palestras bem remuneradas, mas não declaradas, como confessa o próprio Moro.

Projeto de criação de empresa em nome das esposas para ganhar dinheiro com as palestras.

Por trás das cortinas, corriam soltos comentários pejorativos, zombarias, risadas…

O deboche, escancarado e cínico, era a tônica das conversas entre juízes e procuradores.

Cá fora, o mundo era perfeito sob os aplausos dos miquinhos amestrados.

Talvez aí caibam algumas considerações.

Destaco dois “detalhezinhos” para os quais os miquinhos amestrados certamente nunca atentaram.

  1. Todas as palestras de Lula foram divulgadas e declaradas.
  2. Quando Lula fez as palestras não era mais presidente, já estava fora do governo, portanto, não era mais servidor público.

Mesmo assim, eram taxadas de propina pelos heróis nacionais.

Aqui cabem mais dois “detalhezinhos”, para os quais os miquinhos amestrados certamente também nunca atentaram. Nem querem.

  1. As palestras de Moro e Dallagnol foram inicialmente feitas às escondidas, não eram do conhecimento da sociedade e muitas vezes sequer declaradas (quantas?). Depois é que se tomou conhecimento.
  2. Foram realizadas com Moro e Dallagnol exercendo os cargos, como servidores públicos.

Pego com a boca na botija, a defesa de Moro foi uma verdeira pérola;

“Puro lapso”.

Voltava à tona a amnésia do ex-juiz e atual-até quando-só Deus sabe-ministro da justiça.

Ele teria esquecido de declarar o que tinha feito e para o qual tinha sido muito bem remunerado, segundo ele próprio.

Postou umas desculpas esfarrapadas.

Recorro a Jarbas Passarinho, ministro do Trabalho e da Previdência Social do Governo Médici.

Quando ele foi assinar o AI 5 no regime militar, disse.

“Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência”.

Moro e Dallagnol fizeram o mesmo.

Quando perceberam que estavam acima do bem do mal, mandaram “às favas… todos os escrúpulos de consciência”.

Há um detalhe, porém, que, por razões diversas, raras vezes é observado.

“O poder corrompe o homem”.

Esta é a frase que todos dizem.

Não vejo assim.

Digo há muitos anos que ‘o poder mostra o homem’.

Quando o homem manda os escrúpulos às favas, há no seu gesto fortes indícios de que ele não tem escrúpulos.

Moro resolveu fazer voos sem controle, por ilegais que eram.

Voos ilegais não são autorizados pelas torres de controle e não é incomum que terminem em graves acidentes.

E é quando ocorrem esses acidentes que as consequentes investigações expõem a sua ilegalidade.

As baratas devem saber dos riscos que correm nos seus voos.

“A baratinha iaiá, a baratinha ioiô, a baratinha bateu asas e voou”.

Haverá sobreviventes?

Se houver, por quanto tempo resistirão?

Por favor, não argumentem com a atividade docente que é permitida aos magistrados de acordo com a Lei Orgânica da Magistratura Nacional, porque só confirmarão os cínicos que vocês são, como também estarão fazendo pouco da inteligência das pessoas, algo talvez difícil de ser identificado por vocês.

Estamos numa encruzilhada!

Quem combate a corrupção dos que combatem a corrupção?

Quem controla esses voos clandestinos?

E o que fazem vocês, miquinhos amestrados?

Sob o comando do pensador que atualmente ocupa a cadeira da presidência, que “pensa” por vocês e para vocês, ficam agredindo Glenn Greenwald.

Sob o comando do pensador que atualmente ocupa a cadeira da presidência, que “pensa” por vocês e para vocês, ficam agredindo a mãe de Glenn Greenwald.

Sob o comando do pensador que atualmente ocupa a cadeira da presidência, que “pensa” por vocês e para vocês, querem prender Glenn Greenwald, ou expulsa-lo do país.

E vocês, miquinhos amestrados, defenderam, defendem e vão continuar defendendo (alguém tem dúvida?) esses homens e mulheres como honestos, dignos e que lutam contra a corrupção.

Só eles são canalhas?

Não se preocupem.

A gente entende a atitude de vocês.

É corporativismo de classe.